19 de novembro de 2009

O BRASÃO E A LENDA

O BRASÃO DA MURTOSA





Lenda ou tradição


"Diz-se, na tradição corrente, que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Caqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.


A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de "Chão das Figueiras". Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.


Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente "anfíbia" como, séculos depois, escrevia Raul Brandão."


VILAR, Jaime - Lenda ou Tradição?. Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa. Murtosa: Câmara Municipal da Murtosa (1993), p.11.


A Origem do Nome Murtosa


Murtosa ou Murtoza?


A origem do nome deste concelho é por vezes um grande tema de discussão. Isto, porque a sua palavra primitiva sofreu grandes alterações com a evolução da língua portuguesa.


A história conta que esta era uma terra de «fogo morto»; terra de «foco mortuo»; terra mortua;A terra mortuosa; terra mortosa; mortosa; murtosa.


Mortaus; mortua, morta ou myrtus; murtus, ; murta, que topónimo Murtosa foi buscar, originalmente, o étimo provável da sua formação?


Dizia-se casal de fogo morto o que estava desabitado e onde o lume se apagara; e por generalização : toda a terra inculta ou despovoada.


Na baixa latinidade, até D. Dinis, e em todos os documentos: terra de focuo-mortuo. Alterando-se a grafia, a seguir, para vulgar, a forma: terra mortua que, em sentido colectivo pelo reforçamento do sufixo OSA, nos apareceu transportada em terra mortuosa.


Vocábulo este que a crise e a fonética aligeirara : -terra mortusa < MORTOSA.


Nos velhos manuscritos que vão passando, o topónimo do nosso apadrinhamento surge, a cada passo, diferentemente grafado até nos próprios documentos oficiais:- MORTOOZA; MORTTOZA;MORTOZA;MURTOOZA, MURTOZA; MURTUOZA.


Para leis da fonética, é vulgaríssima conversão da vogal átona O em U, e na grafia arcaica, com frequência, se duplicavam as vogais tónicas. Assim se teria descaído em MURTOSA.


Terra morta, planura desolada, quase sem vida vegetativa, que os vendavais, cruéis e assoladores, batiam mais amuide na freima costa recortada.


Esta designação de «terra morta», deve-se ao facto desta zona ser denominada de Beira-marinha, são integralmente uniformes e homogéneas na associação dos caracteres da sua estrutura geológica e étnica. A mesma harmonia as confunde em todos os detalhes do seu conjunto. Até o seu revestimento vegetal é de perfeito aspecto similar. E incluem-se na divisa cenezoica de formação moderna. De natureza sedimentar, emergem hoje no antigo golfo marítimo, de reintrância ainda hoje bem definida, sob a acção de poderosas forças, erosivas e construtivas.


No tempo de Afonso III eram simples afloramentos arenosos, distendidos em medois e cabedelos, farto manto de junças. Escoadoiros barrento. Esteiros, sapães e atoleiros. Ínsoas, lagoas, charcos, ilhotas, canais e ribeiros. Faixas alagadiças e empapadas das vasas aluvianares.


Marinha e ria – enquadramento de maravilhosa traça fisionómica que corda de areia fulva veio fechar, depois, até Mira às iras oceânicas e a muralha esborcinada do paleozoico cintou a nascente. Perspectiva onde os olhos se nos ficam a abeberar-se na perturbante magia dos seus panoramas.


Vale a pena pensar nas nossas origens... descobrimos verdadeiras maravilhas.



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